sexta-feira, 6 de março de 2009


Gosto da tristeza para me tocar, pra me dizer alguma coisa, pra buscar aquele sentimento mais escondido lá, no fundo do peito, tem que ter um toque de melancolia, um quê de pássaro voando no céu num fim de tarde avermelhado, aquela beleza que dói e a gente não sabe se ri ou se chora, uma nostalgia aguda do que não se viveu, uma saudade inquieta que nem se sabe de quê. Eu vivo esse sentimento quase todos os dias, de pés descalços maravilhada diante da vida, e das coisas que são tantas, e de tanta beleza, e tanta estranheza, e tanto de tudo o tempo todo, um mundo de cores e som e fúria que às vezes me faz sentir uma menininha tão só, mas tão inteira diante da vida, e é tanto pra me doer, e tanto pra sonhar, e tanto pra rir sozinha olhando pro céu e para as pipas coloridas voando lá no alto em dias de vento. A vida nem sempre me dói, às vezes a intensidade de um furacão revirando tudo, e bagunçando tudo, e destruindo tudo - só assim se pode renascer. E em certas noites de frio quando o vento gelado me bate no rosto e me bagunça os cabelos, meus olhos se enchem de lágrimas sem que eu saiba o porquê, mas não preciso saber, já não me importa, já há muito que não me faço esse tipo de pergunta. E nesses momentos eu sinto como se tivesse um bichinho me beliscando por dentro, me fazendo cócegas na alma, me sussurrando baixinho que a vida é assim mesmo, já dizia Drummond, hoje chora, amanhã não chora, e depois de amanhã a gente começa tudo de novo, porque é assim que deve ser, sem sentido, mas com sentimento. Não nasci para ser feliz, não nasci para ser triste. Nasci para ser livre.

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